quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Olhos


De repente, parei ali...não sei se exatamente parei ou se fui atraída praquele lugar. Era exatamente a sensação de estar no olho do furacão, enquanto tudo em volta era um turbilhão de sensações. Teus olhos não são apenas espelhos da tua alma, são também portas, janelas, têm qualquer coisa desse poder de transportar para outros lugares. Se a beleza está nos olhos de quem vê, no teu caso, a beleza também está nos olhos de para quem se olha, pois é isto que encontro nessas navegações no fundo do teu olhar. 

Contemplar-te, definitivamente me enche os olhos de vida e de rotas possíveis nesses mares. E eu queria mesmo era ficar de olho em você interminavelmente, como a desenhar teu mapa com todos os teus detalhes. Nem me importa que, a olhos vistos, todos percebam que não reluto, que me deixo pertencer e ser guiada pela luz do teu olhar como os navios seguem os faróis nas noites escuras.

Olho por olho, dente por dente, toque por toque, meu desejo é devolver cada sensação que tu me causas. E me revelar por inteiro, desnudar a alma, sem ter medo do que possam ver os teus olhos de lince. Quero apenas, meu bem, que saibas que, se de olhos bem abertos, posso me comprazer com tudo que me fazes, sinto-me igualmente tranqüila em poder abandonar-me em ti até de olhos fechados.  Assim, quero manter-te sempre ao alcance dos olhos e poder dizer sem pestanejar que eu te amo.

Desejo que no porto onde se acostará o navio com nossos sonhos, possamos perceber, em um piscar de olhos, que a terra com o lar que sonhamos e as árvores frutíferas que semeamos ali se encontram.  Olhos nos olhos, se eu me perco ou se eu me acho nesse mar, eu não sei. Só sei que quero ficar ali, para sempre, como menina dos teus olhos, nem que seja no canto do olho.


 

 

 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Bagagem


Certa vez, uma psicóloga sem fronteiras disse em uma entrevista que só era dela aquilo que ela conseguia levar. Desde que eu saí de casa e mudei de estado penso nessa frase e sinto certa inveja dessa sensação. Também gostaria de poder dizer que tudo o que eu tenho de importante cabe simplesmente em uma mochila. 

Nesses meses de adaptação ainda é difícil se localizar, é trabalhoso montar uma casa nova, escolher que coisas levar, mas principalmente é doloroso retornar à sua antiga morada e ver que nada mais está como você deixou. Suas coisas agora estão encaixotadas, alguém se apossou daquele antigo armário, sua estante está cheia de pertences de outras pessoas. E então percebemos que tantas pequenas coisas nos constroem, nos definem, delimitam a noção que temos de nós.

A gente se confunde um pouco com as coisas que adquirimos ao longo da vida, desde um guardanapo com um nome e data, antigos diários, ingressos de cinema, fotos do primeiro namorado, presentes e suas embalagens... Às vezes, tenho vontade de pôr tudo o que me pertence em um único lugar. Isso supriria o meu desejo de olhar em volta e dizer isso é meu, isso conta a minha história, a isso eu posso recorrer quando a realidade estiver meio confusa e assim descobrir entre um papel de bombom e um frasco antigo de perfume a resposta pra alguma questão inquietante.

Tudo isso é o rastro dos passos que demos para chegar até aqui, como as migalhas de pão em João e Maria, para que possamos encontrar o caminho de casa. O problema é que, como na história, tudo é perecível e pode facilmente ser perdido por um ou outro fator ao longo do caminho. Por hora, sempre fica aquele livro, aquele cd, aquela foto em uma caixinha a mil e quinhentos quilômetros de distância. 

Daí eu penso o quanto disso tudo ficou dentro de mim, o quanto dessas lembranças, dessas vivências, dessas histórias moldaram meus gestos, minha personalidade, meus ideais de vida, a maneira que conduzo os meus dias. De repente, noto que tudo ainda continua comigo, também em pequenas caixas dentro do meu cérebro. Umas mais organizadas, outras nem tanto. Umas com cadeado, outras de fácil acesso. Em todos os casos, porém, basta um cheiro, uma cor, um riso, aquela canção, para que tudo venha à tona e tenha exatamente o mesmo gosto e o melhor, sem precisar pagar excesso de bagagem.