sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Fernanda Meireles (2)



Vale a pena divulgar o trabalho dela. E eu ainda descobri que a fofíssima vende! =) I like it!

"Que as máquinas descansem...já que os corações não conseguem."

domingo, 10 de outubro de 2010

"Cecília'

Um texto lindíssimo de um grande amigo, Emanuel Meireles, e uma amiga dele, Caroline Souza.

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“O que desejo não me toma”. Esta frase havia ecoado durante todo o dia no pensamento de Cecília. Como o barulho da televisão ao fundo da cena principal de um filme, esta frase parecia apenas mais um devaneio, algo despretensioso no qual ela havia pensado ao longo dia. Porém nos últimos dias os devaneios tinham tomado tanto o seu pensamento, afligindo-lhe tanto, que este pareceu apenas mais uma desculpa para rever a sua sanidade. O que haveria de ser?
Embora Cecília sempre tivesse sido uma mulher muito frágil, inconstante e indecisa, muito cedo tomou a decisão de que moraria sozinha, o que causou grande surpresa entre seus familiares, que esperavam para ela uma vida pacata. Cecília tomou a decisão de que moraria sozinha, prestou concurso para um órgão público e, rapidamente, atingiu um bom patamar financeiro para comprar o que bem entendesse. Assim, tinha sua casa, seu carro, seu emprego bem remunerado, o que mais uma pessoa independente haveria de querer?
Conforme se aproximava a noite, as palavras que haviam impregnado seus devaneios o dia todo aumentavam de volume e exigia de Cecília uma concentração muito maior para tentar dispersá-los.
A noite era, para ela, a pior parte do dia. A escuridão que tomava o lado de fora da janela somava-se à de seu quarto, formando um clima mórbido, de sentimentos sombrios que causavam tanto desconforto que era muito fácil libertar todos seus sentimentos escondidos durante o dia. Uma liberdade óbvia e absurda.
“O que desejo não me toma”. Se antes, poder-se-ia comparar esta frase ao barulho da televisão ao fundo, naquele instante já não seria mais possível fazê-lo. Tratava-se, talvez, de um delírio, uma obssessão.
Cecília achou que poderia ser estresse. Afinal, a carga de trabalho na repartição havia aumentado e, profissional exemplar que sempre foi, tentava dar conta de todas as demandas que ali surgiam, mesmo com a precariedade estrutural característica de seu espaço de trabalho.
Resolveu, então, tomar um banho quente, para quem sabe assim, poder descansar, esquecer-se do estresse e pensar em algo que não fosse aquela misteriosa frase sussurada ao seu ouvido.
No banho, Cecília tentou relaxar, tocar seu corpo suavemente, sentir a água morna percorrer sua pele. Encerrado esse momento, sentou-se diante do espelho e começou a enxaguar o cabelo. Enquanto Cecília massageava seu cabelo, sentiu-se como que intimada pela voz que sussurrava a frase ainda mais alto, num tom cada vez mais imperativo. Fingindo não ligar para isto, ela penteava lenta e cuidadosamente seus longos e bem cuidados cabelos.
Todavia, sem saber muito bem por que, já muito próximo do fim de concluir seu trabalhoso penteado, resolve descer suas mãos até o púbis. Que coisa louca pensar em sentir prazer assim, sem tem porque, por razão ou outra coisa qualquer. Um gesto sutil, suave, fácil, reprimido, aos poucos foi tomando corpo, movimento, desejo. Nunca tinha sentido tal prazer, e agora sozinha, livre, olhava para si e tinha a fome de viver todo o somatório indefinido de possibilidades que sua existência lhe exigia.
Junto à sua experiência única, sentiu vontade de assanhar seus cabelos com a toalha. Não era um assanhamento qualquer. Quanto mais Cecília se assanhava, mais vontade sentia de fazê-lo e com uma força e intensidade cada vez maiores. Não seria preciso se olhar no espelho para perceber que seu aspecto naquele momento já diferia bastante daquele que apresentava cotidianamente. Estava asssanhada? Obviamente que sim. Mas que sentimento era este para uma mulher sempre tão elegante? E ao se perguntar isto, a primeira palavra que imaginou foi: liberdade.
Havia muito, por mais contraditório que lhe parecesse, a mulher independente não se sabia livre. Fazia alguns minutos que não mais ouvia aquela perturbadora frase. Diante de si, então, percebia-se como a garota que, logo cedo, em busca de sua independência, resolvera sair de casa. Desta vez, porém, frágil, sozinha e sedenta por vida.
Não queria abrir mão do que conquistara até ali. Porém, percebeu, pela primeira vez em muitos anos, que sair de casa havia sido seu último grito de liberdade e que aquela menina assanhada, nua, sozinha e agora livre que olhava para si tinha a fome de viver poesia. Assim, ainda sem roupa, Cecília andou por sua casa e a liberdade que a nudez lhe fazia sentir era experimentada com a mesma gula que afeta os famintos. Sem se aperceber, andou e dançou pela casa horas a fio. O que uma poetisa poderia fazer se não, despida de todas as roupas que havia carregado pesadamente há tempos junto ao corpo, dançar?
E, tomada pelo cansaço e pela sua liberdade, caiu, nua, no sofá da sala, com a convicção sentida de que nunca mais seria a mesma.

Caroline Souza e Emanuel Meireles
. =)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Em nome da dignidade da palavra


Eu ainda me surpreendo como ser digno no que se diz é uma característica rara hoje em dia. O que deveria ser regra na verdade é a exceção. Não entendo, por exemplo, como muitos perdem um tempo desmedido mentindo para quem quer que seja. Há ate aqueles que mentem, 24h por dia, para si mesmos. Outros, na falta de um talento melhor, praticam a mentira por esporte! Não entendo como simplesmente é possível que alguns se divirtam com as expectativas e a capacidade de afetação das pessoas.

Gosto de pensar naquela época em que contratos eram fechados só com uma palavra. Entristeço-me quando percebo que hoje, quando queremos dizer que algo não é sério, falamos: “ Nãooo...é só de boca”. Onde foi parar todo aquele respeito com o dito que era tão cultivado pelos nossos avós? Na verdade, sorte a nossa e a deles, os nossos avós nunca foram (pós) modernos e pra eles essa história de vida líquida/valores líquidos é realmente falta de um caráter sólido.

Não sou contra mudar de opinião ou adotar eufemismos em respeito ao outro, lembrando que isso é diferente de omissão de verdade. Porém, pasmo diante da incrível flexibilização do verbo:o que é dito agora, não necessariamente representa a verdade e, mesmo que assim seja, provavelmente no futuro não será mais. Essas metamorfoses ambulantes são o próprio símbolo da instabilidade irrefletida e desvairada.

Quem consegue ser digno no que profere, entende a premência e a obrigatoriedade de respeitar o Outro e a si mesmo. Aprendeu a honrar com o que se compromete,independente de ser uma resposta afirmativa para farras em um bar, uma consolidação de compromissos ou a elaboração de frases que representem ideologias de vida.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Saudade

“Saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio”
É sempre difícil dizer “até breve” para lugares e pessoas...quantos rostinhos nós levamos conosco durante a vida? Alguns olhares, tantas lições, quantas lutas compartilhadas, quantas crenças, cada fio de esperança...Hoje, indubitavelmente, sei que o que importa é a proximidade, são as relações, é aquilo que você constrói em conjunto...É gostoso ouvir as pessoas lamentarem sua ida, é muito bom saber que você fez diferença...é muito bom saber que muitos fazem diferença pra você também e que você sempre vai levar aquela dorzinha dentro do peito que se chama saudade, mas que esse mesmo sentimento sempre vem acompanhado de um sorriso.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Carregando... (ou não!)

Um velho monge e um jovem monge estavam andando por uma estrada quando chegaram a um rio que corria veloz. O rio não era nem muito largo nem muito fundo, e os dois estavam prestes a atravessá-lo quando uma bela jovem, que esperava na margem, aproximou-se deles. A moça estava vestida com muita elegância, abanava o leque e piscava muito, sorrindo com olhos muito grandes.

- Oh - disse ela, a correnteza é tão forte, a água é tão fria, e a seda do meu quimono vai se estragar se eu o molhar. Será que vocês poderiam me carregar até o outro lado do rio?

E ela se insinuou sedutora para o lado do monge mais jovem.

O jovem monge não gostou do comportamento daquela moça mimada e despudorada. Achou que ela merecia uma lição. Além do mais, monges não devem se envolver com mulheres. Então ele a ignorou e atravessou o rio. Mas o monge mais velho deu de ombros, ergueu a moça e a carregou nas costas até o outro lado do rio. Depois os dois monges continuaram pela estrada.

Embora andassem em silêncio, o monge mais novo estava furioso. Achava que o companheiro tinha cometido um erro ao ceder aos caprichos daquela moça mimada. E, pior ainda, ao tocá-la tinha desobedecido as regras dos monges. O jovem reclamava e vociferava mentalmente, enquanto eles caminhavam subindo montanhas e atravessando campos. Finalmente, ele não agüentou. Aos gritos, começou a repreender o companheiro por ter atravessado o rio carregando a moça. Estava fora de si, com o rosto vermelho de tanta raiva.

- Ora, ora, - disse o velho monge. - Você ainda está carregando aquela mulher? Eu já a pus no chão há uma hora.

E, dando de ombros, continuou a caminhar.

(Autor desconhecido)
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Como diria uma pessoa muito querida: "Não é um pecado esquecer!". E não é MESMO! =)

Ah, agradecimentos à Júlia! =) Por adicionar tanto durante o trânsito da vida! ; ) =*

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Não vá ainda...

"Me diga como você pode
Viver indo embora
Sem se despedaçar
Por favor me diga agora
Ou será!
Que você nem quer perceber?
Talvez você
Seja feliz sem saber..."
Composição: Christian Oyens / Zélia Duncan

domingo, 22 de agosto de 2010

Certezas- Mário Quintana

Não quero alguém que morra de amor por mim...
Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim...
Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível...
E que esse momento será inesquecível...
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre...
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho...
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento...e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe...
Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas...
Que a esperança nunca me pareça um NÃO que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como SIM.
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros... Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão...
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena.

domingo, 15 de agosto de 2010

Pouca Vogal - Dia Especial

Eu sempre acho irônico como tudo na vida tem seu tempo. Inúmeras vezes algumas pessoas já me falaram de bandas, filmes, livros, teorias, enfim...e eu não dei tanta atenção no momento ou tive preconceito ou não gostei mesmo! E, então, tempos depois, por acaso,(re)descubro!
Nessa situação, creio que eu simplesmente não dei tanta atenção à ocasião (não pelo momento e as pessoas envolvidas, mas por questões do passado certamente). Graças ao "Recomendado para você" no Youtube (melhor do que biscoitinho da sorte!) eis que escuto e me encanto! São coisas da vida (com uma mãozinha da tecnologia).

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Dégradé- Ana Jácomo

Algumas preciosidades morrem baixinho, em dégradé. Como morrem as tardes. Como morrem as flores. Como morrem as ondas. Quando a gente percebe, já é noite e o céu, se está disposto a falar, diz estrelas. Quando a gente percebe, as pétalas já descansam o seu sorriso no colo do chão. Quando a gente percebe, o canto da onda já enterneceu a areia. Muitas dádivas que nos encontram, que nos encantam, têm seu tempo de viço, sua hora de recado, e seu momento de transformação em outro jeito de lindeza.

A noite também é bela do jeito dela. As pétalas caídas viram húmus para fertilizar o solo que dirá a vez de outras flores sorrirem. A areia molhada conta a canção da onda e da sua acolhida terna para a nossa vida descalça. Lutar contra a impermanência da cara das coisas é feito tentar prender o azul macio das tardes, segurar o viço risonho das flores, amordaçar as ondas. É inútil.

Costumamos esquecer que não podemos impedir a mudança: tudo dança a coreografia sábia e implacável da impermanência. Mas a música daquilo que verdadeiramente nos toca com amor, não importa o quanto tudo mude - e tudo muda -, não deixa nunca mais de tocar e viver, de algum jeito, no nosso coração.

Can't help falling in love

Uma música linda na voz de Ingrid Michaelson.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Felicidade Realista ( Martha Medeiros )

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote
louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.

Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.

Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo,
usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o
suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se.

Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.

domingo, 1 de agosto de 2010

Infinita Highway



Eu devia ter uns 13, 14 anos...e essa era uma das minhas músicas preferidas...Eu tenho saudades de todos aqueles sentimentos dentro do peito. "Escute, garota, o vento canta uma canção, dessas que a gente nunca canta sem razão".
Hoje alguém muito especial me disse que se orgulhava de mim...não só por me conhecer há 10 anos, mas pela minha essência...Foi nesse tempo..."Eu posso estar completamente enganado, eu posso estar correndo para o lado errado, mas a dúvida é o preço da pureza e é inútil ter certeza"...É, talvez a vida seja isso mesmo...uma Infinita Highway, uma Grand Line...Talvez a nossa essência não se mostre tão fácil, nem para todos...Que bom que ainda assim continuamos nós mesmos..."Na boca, em vez de um beijo, um chiclete de menta e a sombra do sorriso que eu deixei...numa das curvas da highway".

sábado, 31 de julho de 2010

Como ser bonita - Audrey Hepburn

Esse texto foi escrito pela minha atriz favorita, quando perguntada sobre os seus segredos de beleza.

1.Para ter lábios atraentes, diga palavras doces.

2.Para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas.

3.Para ter um corpo esguio, divida sua comida com os famintos.

4.Para ter cabelos bonitos, deixe uma criança passar seus dedos por eles pelo menos uma vez por dia.

5.Para ter boa postura, caminhe com a certeza de que nunca andará sozinho.

6.Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas, jamais jogue alguém fora.

7.Lembre-se que, se alguma vez precisar de uma mão amiga, você a encontrará no final do seu braço. Ao ficarmos mais velhos, descobrimos porque temos duas mãos, uma para ajudar a nós mesmos, a outra para ajudar o próximo.

8.A beleza de uma mulher não está nas roupas que ela veste, nem no corpo que ela carrega, ou na forma como penteia o cabelo. A beleza de uma mulher deve ser vista nos seus olhos, porque esta é a porta para seu coração, o lugar onde o amor reside.

9.A beleza de uma mulher não está na expressão facial, mas a verdadeira beleza de uma mulher está refletida em sua alma. Está no carinho que ela amorosamente dá, na paixão que ela demonstra.

10.A beleza de uma mulher cresce com o passar dos anos.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Mudez

Pronto, não falei! 
Não é um problema apenas com o que eu ia dizer e sim com o que eu ia escutar. Minha sábia mãe já dizia: "Quem fala o que quer, ouve o que não quer". E, ao contrário do que se pensa, as informações escutadas não são processadas pelo cérebro, são processadas pelas entranhas. E, nesse caso, prefiro preservá-las (as minhas e as dos outros) para situações melhores e mais justas. Discordo que a minha mudez seja o reflexo de uma postura intolerante. Nesse momento, não passa de um reposicionamento ético de não tentar justificar o injustificável.


sábado, 17 de julho de 2010

Fagulhas (Ana Cristina César)

Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria rir, chorar,
ou pelo menos sorrir
com a mesma leveza com que
os ares me beijavam.
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça,
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando.
Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio.
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las.
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Espelho, espelho meu...

... Existe alguém mais vaidoso do que eu?
O que você enxerga quando olha no espelho? Digo, o que você realmente enxerga? Sempre fazemos uma leitura parcial da nossa imagem, do nosso Eu, e tendemos a acentuar o que nos convém ou a destacar alguns defeitos com os quais não conseguimos lidar. O fato é que tanto um pólo quanto outro não passam mais do que comportamentos alimentados por nossa vaidade.
Esse raciocínio talvez fique mais nítido se pensarmos no engrandecimento de nossas qualidades, que às vezes ficam tão infladas que nem conseguimos ver nada além. Contudo, quando tratamos de defeitos, não deixa de ser um ato de vaidade acreditar que ninguém consegue ser pior do que nós em determinado assunto, ou seja, somos os melhores em fazer algo errado.
Ao avaliarmos os nossos comportamentos, tendemos a um desses pólos, pois fugimos da idéia de sermos “normais”, uma vez que atribuímos a essa palavra o significado de sermos “iguais” a todo mundo, o que em si é impossível, ou então conferimos a ela o significado de ser medíocre. Talvez pudéssemos fazer uma leitura mais realista ou mais sensata se percebêssemos que todos nós expressamos um conjunto de comportamentos mais ou menos compartilhados pelos demais, mesmo em nossas maiores alegrias e conquistas ou nos nossos piores infortúnios.
O fato é que queremos ser diferentes, especiais, ganhar destaque, seja a qualquer custo, seja com o velho jeitinho brasileiro, seja dramatizando um pouco as nossas próprias vidas. Lembro de uma frase que eu li há muitos anos e nunca me saiu da cabeça, embora o autor eu tenha definitivamente esquecido e o Google não tenha ajudado, ela dizia: “Para alcançar destaque seja o primeiro, o melhor ou o diferente”. E, pensando bem, vivemos nessa corrida em todos os âmbitos da nossa vida e provavelmente em todas as fases. Já quisemos ser o filho ou o neto mais querido; já quisemos ser o primeiro beijo de alguém ou a primeira transa. Afinal, é um prazer a parte quando alguém diz: “é a primeira vez que eu faço isso”. Pronto, você já sabe que ficará marcado para todo o sempre. E se não conseguimos ser os primeiros para alguém, queremos fazer tudo de forma inesquecível e lamentamos se o nosso companheiro tem um pouco mais de anos de vida e de vivências, porque assim nossa tarefa se torna mais difícil.
Da mesma forma, estendendo para outros contextos, já quisemos ou queremos ser o melhor na escola/faculdade/trabalho, alimentando muitas vezes um senso de competição doentio e nos justificando com a crença de que é uma necessidade do mercado e não uma necessidade nossa. Também certamente já tentamos inventar algo ou deixar uma obra que revolucionasse a humanidade, quando, na verdade, deixamos algumas músicas, uns rascunhos no papel, um livro ou alguns artigos talvez e ferimos os nossos egos, por não ter sido suficiente transformar “pequenas” realidades.
Nenhuma dessas situações ou estados de espírito estão totalmente certos ou errados, e é bom que fique claro que eu não estou fazendo apologia de comportamentos verdadeiramente medíocres ou incentivando um conformismo desmedido que nos impeça de ultrapassar os nossos limites. Além disso, é bom que em certa medida alimentemos o nosso ego, pois também precisamos de autoestima e autoconfiança. O problema está em fazer essa corrida louca a grande razão de nossas vidas ou nos considerarmos infelizes ou insatisfeitos por não termos conseguido ser “o primeiro, o melhor ou o diferente”. Preocupante é fazer isso a qualquer custo ou sem refletir sobre o que, de fato, motiva um dos nossos comportamentos. Enfim, espero que um dia, ao olharmos no espelho, possamos ver o humano que somos com um pouco mais de gentileza e bem menos crítica.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A elegância no comportamento

Não sou muito a favor de modismos, mas inegavelmente gosto do belo na vida.

"A ELEGÂNCIA NO COMPORTAMENTO
Martha Medeiros

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara : a elegância do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.

É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.

É uma elegância desobrigada.

É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas.

Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.

É possível detectá-la em pessoas pontuais.

Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.

Oferecer flores é sempre elegante.

É elegante não ficar espaçoso demais.

É elegante você fazer algo por alguém e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar para o fazer...

É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro.

É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.

É elegante retribuir carinho e solidariedade.

É elegante o silêncio, diante de uma rejeição....

Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.

Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.

É elegante a gentileza; atitudes gentis falam mais que mil imagens...

Abrir a porta para alguém? É muito elegante.

Dar o lugar para alguém sentar? É muito elegante.

Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...

Oferecer ajuda? Muito elegante.

Olhar nos olhos ao conversar? Essencialmente elegante.

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.

A saída é desenvolver em si mesma a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras".

Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.
Educação enferruja por falta de uso.

E, detalhe: não é frescura. "

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sonho

Eu sinto falta de um mundo onde todos possam voltar pra casa e ter a sensação de lar. Um mundo onde as religiões não sejam mais importantes do que a bondade que há no coração das pessoas. Um mundo onde a família não se resume apenas aos entes consangüíneos, mas diz respeito à humanidade toda.
Eu sinto falta de as pessoas dizerem apenas palavras construtivas umas às outras. Eu sinto falta das pessoas acreditarem que realizar sonhos é algo possível.
Eu sonho com trabalhos dignos, com moradias dignas, com uma vida íntegra. Sonho com líderes que, de fato, ajudem seus seguidores a alcançar o melhor de si e o melhor de tudo.
Eu sonho com leveza, com amor, com gratidão. Eu sinto falta dessa realidade em que você ama e é amado de volta, simplesmente, porque é bom e lindo. Eu sonho com um mundo onde as pessoas se respeitam e cuidam umas das outras. Eu sonho com um mundo onde todas as filosofias de vida se resumam em uma única palavra: nós.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

É isso...

Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão.

Jean-Paul Sartre

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Quase


...é um silêncio, é uma saudade
É uma falta do que não tem nome
Um encontro numa praça qualquer, num bar, numa cama
Quem sabe na lanchonete da esquina
Uma risada solta...bobona
O trocadilho que veio porque não podia perder a hora
Saudade de uma voz macia
Sussurrada talvez
Uma brisa de noite
Um cheiro de mar
Saudade do que faz sentido...saudade do porque simplesmente sim...
Mas toda a nossa complexidade humana nos possibilita escolher um porque simplesmente não...
E só quem pode lidar com o quase sou eu...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Alice

Em tempos de "Alice no País das Maravilhas", aproveito pra compartilhar um texto que conheço desssssssde que eu tinha o tamanho da Alice (embora isso seja algo muito relativo). Já devo ter lido umas mil vezes e ainda assim ele sempre me diz muito.

Para Maria da Graça
Paulo Mendes Campos

Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?"
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon".Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gato se fosses eu?"
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "A minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuido tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor`.
Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Companhia


Era uma conversa de carro, dessas que a gente tem no final da noite. Era aquele momento em que você não sabe se agradece ou se lamenta pela noite ter acabado. A chave virada, a luz apagada e é o suficiente para emergir aquele pensamento conjunto: “quem diria?”.

Anos depois e aquela reflexão sobressalta. Estamos mesmo à mercê da imprevisibilidade da vida. Podemos nos planejar e semear, mas, por inúmeras vezes, a vida decide os traços, independente da nossa vontade. Cabe a nós, portanto, a (re) adaptação, o que não é tão simples quanto reconhecer que é um processo necessário.  A (re) adaptação exige postura ativa e luta contra os nossos principais fantasmas, principalmente os de onipotência ou os de completa impotência, porque o fato é que, entre esses sentimentos, há várias nuances.

Naquele momento, lembramos de todos os preciosos laços afetivos que se foram a contragosto e daqueles que se formaram por pura ironia. Será que podemos controlar o sentimento de amar verdadeiramente as pessoas que “não” devemos? E se desejamos, de fato, manter por perto quem forjou as nossas cicatrizes? E se isso agora for apenas um detalhe e conseguimos verdadeiramente ser felizes com o Encontro?

A conversa versava sobre isso e eu exponho que nunca entendi porque as dores ou os temores, para a maioria, são mais importantes do que a felicidade vivida. Quem ama e perdoa quer por perto, porque as pessoas importam mais do que um título que se foi. Elas importam mais do que qualquer dor ou mágoa. Somente assim podemos apreender a beleza de uma existência compartilhada e celebrar mesmo a longínqua felicidade de momentos vividos.

Como manter aquele fulgor no olhar que revela o esplendor de um espírito que se enamora, se não conseguimos ver amorosamente o mundo e as pessoas? Não importa tanto se o saldo é maior para as belas qualidades ou para os transitórios defeitos, pois é o movimento dessa balança que nos confere o status de Humanos.

Minha companheira me olhava surpresa, sem entender como eu podia “dilatar tanto o coração”. Constatou que eu sou a única pessoa que ela conhece assim. Beijou-me a fronte, fechou a porta do carro e me deixou ali, naquela madrugada. Repentinamente percebi, solitariamente, que me sentia acompanhada por toda a gente.


terça-feira, 20 de abril de 2010

O gato

Através da janela, vislumbrei um gato brincando fagueiramente no
jardim. Há muito havia despertado e o olhar manhoso de outrora se
transmutou em ardente olhar astuto. Verificou cada novo esconderijo
sob as folhagens verdejantes, atormentou borboletas resplandecentes,
perscrutou a casinha das minuciosas abelhas, caçou passarinhos que
teimavam em transitar livremente a despeito do gato... afinal toda
liberdade é um gesto de coragem e risco... O gato percorreu caminhos
elegantemente até encontrar um aconchegante e sombreado lugar na
relva. Aí então se espreguiçou, bocejou gostosamente... ousaria até
dizer que presenciei um sorriso. É... os gatos sorriem às vezes.

(Veronica Gomes)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Conchas

As pequenas conchas na areia relembram um rosto
Imagem que nem o mais voraz dos ventos desfaz
Permanece duna indelével, presente, inabalável
Apenas muda o sentido, o contorno, o movimento
Sob um céu ora nem tão azul
Um céu por hora choroso
Que parecia companheiro daquela aguda dor no peito
E, se surgia sol, seus raios desejavam ardentemente o contorno de uma silhueta
Que talvez acompanhasse a única concha violácea naquele lugar
E, nessa hora, o sopro do mar não mais seria um sussurro de saudade.


domingo, 18 de abril de 2010

Ela


Há uns dias atrás ela já havia transitado pelo meu quarto, perto da cabeceira da cama e, de alguma forma, sua proximidade não me incomodou. Diante dessa reação, cogitei que talvez pudéssemos conviver, se não amigavelmente, pelo menos pacificamente, como seres que se respeitam ou que, pelo menos, se toleram.

Dias depois, entretanto, reconhecendo-me incapaz de sustentar tamanha mansuetude por tempo indeterminado, por fim decidi expulsá-la. Contudo, quando me dei conta, ela havia sumido. Será que adivinhava os meus intuitos? Fugiria ela de mim? Seria eu quem representaria perigo?

Sem haver encontrado as respostas, eis que a reencontro encolhidinha naquele mesmo frio e úmido lugar, fato que deve ter ocorrido por seu descuido, por ironia do destino ou a necessidade de um desfecho. Vendo-a assim parecia inofensiva, percepção nova que se desenhava, diferentemente de todas que já havia tido. Apesar disso, sou assaltada por uma cena do passado.

Para qualquer outra pessoa, o momento que deu origem a essa memória pareceria frívolo, mas não era pra mim. Não foi. Tendo ele ocorrido naquele dia, naquele contexto, no qual estava despreparada, com tantos sentimentos ainda esperando um destino, uma compreensão. Afinal, aquele foi um momento eu que eu me deparei com a frieza do coração humano pela primeira vez, com a falta de compaixão, com a crueldade despretensiosa, como se tivéssemos o direito de manipular vidas e sentimentos sem grandes repercussões.

E agora estava ela ali, novamente diante de mim, impulsionando-me a reviver tudo isso. E ela é mesmo tão pequena, sempre fora, embora por tantos anos tenha sido o estopim de um temor tão grande. Nesse momento, olhando para ela não tenho vontade de chorar, nem quero gritar por socorro. Percebo que ela não foi a grande vilã da antiga historia, foi, na verdade, a vítima. Meu desejo, então, é deixá-la ali, não protegê-la nem ameaçá-la. Agora também ela e tudo o que ela representa já não me ameaça mais.

Talvez esses antigos fantasmas ainda retornem e assombrem alguma noite insone, mas agora, só por esse instante, eu quero mais uma vez deixá-la ficar. Talvez essa seja uma forma de dizer à vida que estou mais forte e que meus pavores podem até existir, mas, certamente, agora não quero mais fugir deles.


sábado, 17 de abril de 2010

Passou

Ah...que saudades daquele tempo...
Que vontade de que tudo fosse como outrora
Tenho saudades da infância e das bonecas que ainda lembro o nome
Daqueles dias de bolo de chocolate coberto de pasta de dente
De perfume que era álcool misturado com sementes de algodão
Das flores mais bonitas, dos campos mais belos, das casas maiores
Do sentimento de que tudo vai dar certo no final
Da idéia de que somos poderosos
De olhar as pessoas sem medo
E se apaixonar como se fosse simples


Por que um blog?

Talvez a idéia de compartilhar pequenos rascunhos, matar as saudades, dialogar com o mundo...expôr um pouco do que pra mim faz sentido, mesmo quando calo. Talvez buscar a sensação de lar não apenas no que tem forma, cor, cheiro e nome...mas no que desconheço.