terça-feira, 25 de junho de 2013

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Olhos


De repente, parei ali...não sei se exatamente parei ou se fui atraída praquele lugar. Era exatamente a sensação de estar no olho do furacão, enquanto tudo em volta era um turbilhão de sensações. Teus olhos não são apenas espelhos da tua alma, são também portas, janelas, têm qualquer coisa desse poder de transportar para outros lugares. Se a beleza está nos olhos de quem vê, no teu caso, a beleza também está nos olhos de para quem se olha, pois é isto que encontro nessas navegações no fundo do teu olhar. 

Contemplar-te, definitivamente me enche os olhos de vida e de rotas possíveis nesses mares. E eu queria mesmo era ficar de olho em você interminavelmente, como a desenhar teu mapa com todos os teus detalhes. Nem me importa que, a olhos vistos, todos percebam que não reluto, que me deixo pertencer e ser guiada pela luz do teu olhar como os navios seguem os faróis nas noites escuras.

Olho por olho, dente por dente, toque por toque, meu desejo é devolver cada sensação que tu me causas. E me revelar por inteiro, desnudar a alma, sem ter medo do que possam ver os teus olhos de lince. Quero apenas, meu bem, que saibas que, se de olhos bem abertos, posso me comprazer com tudo que me fazes, sinto-me igualmente tranqüila em poder abandonar-me em ti até de olhos fechados.  Assim, quero manter-te sempre ao alcance dos olhos e poder dizer sem pestanejar que eu te amo.

Desejo que no porto onde se acostará o navio com nossos sonhos, possamos perceber, em um piscar de olhos, que a terra com o lar que sonhamos e as árvores frutíferas que semeamos ali se encontram.  Olhos nos olhos, se eu me perco ou se eu me acho nesse mar, eu não sei. Só sei que quero ficar ali, para sempre, como menina dos teus olhos, nem que seja no canto do olho.


 

 

 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Bagagem


Certa vez, uma psicóloga sem fronteiras disse em uma entrevista que só era dela aquilo que ela conseguia levar. Desde que eu saí de casa e mudei de estado penso nessa frase e sinto certa inveja dessa sensação. Também gostaria de poder dizer que tudo o que eu tenho de importante cabe simplesmente em uma mochila. 

Nesses meses de adaptação ainda é difícil se localizar, é trabalhoso montar uma casa nova, escolher que coisas levar, mas principalmente é doloroso retornar à sua antiga morada e ver que nada mais está como você deixou. Suas coisas agora estão encaixotadas, alguém se apossou daquele antigo armário, sua estante está cheia de pertences de outras pessoas. E então percebemos que tantas pequenas coisas nos constroem, nos definem, delimitam a noção que temos de nós.

A gente se confunde um pouco com as coisas que adquirimos ao longo da vida, desde um guardanapo com um nome e data, antigos diários, ingressos de cinema, fotos do primeiro namorado, presentes e suas embalagens... Às vezes, tenho vontade de pôr tudo o que me pertence em um único lugar. Isso supriria o meu desejo de olhar em volta e dizer isso é meu, isso conta a minha história, a isso eu posso recorrer quando a realidade estiver meio confusa e assim descobrir entre um papel de bombom e um frasco antigo de perfume a resposta pra alguma questão inquietante.

Tudo isso é o rastro dos passos que demos para chegar até aqui, como as migalhas de pão em João e Maria, para que possamos encontrar o caminho de casa. O problema é que, como na história, tudo é perecível e pode facilmente ser perdido por um ou outro fator ao longo do caminho. Por hora, sempre fica aquele livro, aquele cd, aquela foto em uma caixinha a mil e quinhentos quilômetros de distância. 

Daí eu penso o quanto disso tudo ficou dentro de mim, o quanto dessas lembranças, dessas vivências, dessas histórias moldaram meus gestos, minha personalidade, meus ideais de vida, a maneira que conduzo os meus dias. De repente, noto que tudo ainda continua comigo, também em pequenas caixas dentro do meu cérebro. Umas mais organizadas, outras nem tanto. Umas com cadeado, outras de fácil acesso. Em todos os casos, porém, basta um cheiro, uma cor, um riso, aquela canção, para que tudo venha à tona e tenha exatamente o mesmo gosto e o melhor, sem precisar pagar excesso de bagagem.



quinta-feira, 19 de julho de 2012

As tintas


Sempre rio muito quando as pessoas dizem que meu mundo é muito rosa. Na verdade, ele não é! Nem menos nem mais do que o mesmo mundo que é compartilhado por todas as pessoas. Eu, simplesmente, escolho pintá-lo com a cor que eu quero. E bem pode ser azul, vermelho, verde, laranja, depende do dia. Como eu também poderia deixá-lo todo preto-e-branco, se eu quisesse, mas fica mais charmoso apenas em filmes antigos.

Eu quero mesmo é um mundo colorido, ou, se não for possível, um mundo preto-e-branco com um toque ardente de vermelho, porque, nos piores momentos, algo precisa incendiar dentro do peito pra que a gente consiga reagir, consiga erguer a mão e tingir a vida com outros tons. Não que a nossa vida deva ser um arco-íris todos os dias, pois cor em excesso cansa a vista e, desta forma, também não conseguimos preservar uma ou outra coloração necessária para quando nos confrontamos com situações que simplesmente deixam nossas mentes uma tela em branco diante do inesperado.

O impacto de cada tonalidade depende do sentido desejado pelo pintor e (o principal) dos olhos de quem vê! É assim que, quando contemplamos uma tela, fazemos mais do que captar o significado dela, impregnamos o que foi pintado com as cores da nossa própria alma. Destarte, em cada situação da vida, temos um infinito processo criativo, misturamos ininterruptamente a nossa paleta de cores com as cores de outras pessoas.

Então, eu sou muito grata àqueles que dizem que meu mundo é rosa, caso ao ver os meus quadros compartilhem, produzam e reproduzam a sensação de que eles estão impregnados de calor humano, de crença na vida e de amor, por mais piegas que isso tudo soe. O que eu posso fazer, se é mesmo a minha verdade? Posso apenas desejar que cada um tenha, igualmente, uma vida repleta de cores e, por ventura, que possamos juntos pintar algumas aquarelas.


 



quarta-feira, 11 de julho de 2012

O melhor de si


Eu tenho um amigo que diz que sempre faz tudo errado. Confesso que, nesses treze anos em que nos conhecemos, ele realmente teve alguns comportamentos que eu não entendo. Na última conversa que tivemos, após ele ter sofrido um acidente de moto, perguntei-lhe porque ele ainda não decidiu por um rumo, não clarificou seus objetivos e não optou por uma vida mais tranqüila. Sem pestanejar, ele me respondeu: “Porque para encontrar o melhor de mim eu preciso conviver com o meu pior”.

Todos nós fugimos das nossas sombras e das dos demais. Preferimos deixar o que tememos bem escondidinho, camuflar as nossas imperfeições, ressaltar apenas as nossas qualidades. Quanto às outras pessoas, nesse mundo de relacionamentos líquidos, muitas vezes optamos por romper amizades, namoros e casamentos se nos confrontamos com alguma característica “inadmissível”. O que não percebemos é que, muitas vezes, perdemos a oportunidade de trabalhar as nossas próprias fraquezas, as nossas limitações, quando nos damos conta de um defeito, sendo nosso ou não. 

Não raras vezes, quando apontamos a falha de alguém, estamos, de fato, falando de nós mesmos. Não estamos só identificando um defeito alheio a nós, estamos identificando o nosso defeito no outro ou a partir do outro. É por isso que fugimos, talvez não dos demais, mas do que existe de feio em nós.

E então ficamos angustiados, entramos em crise, reclamamos de todo mundo, porque no fundo nos falta mesmo é um pouco mais de paciência, um pouco mais de compreensão e de flexibilidade. Somente resgatando essas qualidades podemos nos abrir à experiência e conseguir encontrar o nosso melhor, e o melhor das outras pessoas, nas situações mais tenebrosas.


 



sexta-feira, 6 de julho de 2012

À distância


Gosto muito dos escritos da Ana Jácomo. Hoje, lendo um dos textos, fixei-me em uma frase: “Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor.” O contexto é universal, mas aplico em um caso específico: namoro à distância.

Algumas vezes, somos pegos de surpresa pela vida em rumos que antes nunca sequer havíamos pensado. Quem vai com você? Quem fica? Às vezes, não sabemos quanto tempo permaneceremos em um determinado lugar. Entretanto, quando amamos, sempre estamos ansiosos para ter aquela pessoa por perto. Sendo assim, como viver sem prazos ou com planejamentos a médio e a longo prazo? Por que uma pessoa esperaria por você?

Quem já teve oportunidade de vivenciar uma, duas ou mais histórias como essa sabe que namorar à distância é viver com um aperto de saudade dentro do peito. Alguns relacionamentos têm final feliz, outros, ou a maioria deles, nem tanto. O que faz com que cada um trace o seu destino de forma tão diferente?

Uma amiga me dizia que a distancia intensifica a relação e acentua o que é bom e o que é ruim. Como sobreviver a isso? E à saudade? E ao desejo? Talvez um namoro à distância não termine porque acabou o amor, talvez isso ocorra por ter findado a pretensão de lutar por esse sentimento. E a justificativa para essa fraqueza da vontade é a própria distância!

  
Ainda não chegamos aos trinta anos, mas olhamos para os nossos amados tendo certeza de que queremos passar o resto da vida com eles, ou seja, pelo menos uns cinquenta anos. Cinquenta anos! Isso é o dobro de tudo o que eu vivi e, se eu disser que eu tenho dimensão do quanto isso representa, eu estou mentindo. Apenas imagino todo o cotidiano, todas as delicias de uma vida a dois e todos os desafios; as noites de intensa paixão e as noites em que você vai, simplesmente, querer dormir, talvez até sozinho. E então podemos antever um (a) colega de trabalho sexy, as nossas paranóias diante do espelho com o passar dos anos e como tentaremos administrar todas as inseguranças enquanto damos banho nos meninos, arrumamos, botamos no carro e levamos pra escola. Devemos refletir também sobre os dias de bom humor, os dias de mau humor, as contas, o supermercado, a faxina em casa, ou seja, vida real! Não são exatamente as cenas que passam nas novelas das oito. Imagine tudo isso que cogitamos somado a dezenas de acontecimentos que não prevemos e temos 50 anos de casamento!

Vendo esse panorama geral o que seriam dois anos namorando à distância se você tem certeza que é com aquela pessoa que você quer passar o resto da vida? Quantos momentos de distância física e psicológica teremos em 50 anos? Pensar nisso dá medo, e é por medo que os namoros à distância não se mantém. Por medo de quem nos tornaremos, por medo de não conseguir dar lugar aos nossos desejos, por medo de não sermos habilidosos o suficiente para conseguir semear o amor e principalmente por medo de não conseguir manter esse sentimento por um, dois, três anos. Que medo deve dar então quando pensamos em cinquenta! Mas, como diria a Ana, “Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor.”