sexta-feira, 6 de julho de 2012

À distância


Gosto muito dos escritos da Ana Jácomo. Hoje, lendo um dos textos, fixei-me em uma frase: “Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor.” O contexto é universal, mas aplico em um caso específico: namoro à distância.

Algumas vezes, somos pegos de surpresa pela vida em rumos que antes nunca sequer havíamos pensado. Quem vai com você? Quem fica? Às vezes, não sabemos quanto tempo permaneceremos em um determinado lugar. Entretanto, quando amamos, sempre estamos ansiosos para ter aquela pessoa por perto. Sendo assim, como viver sem prazos ou com planejamentos a médio e a longo prazo? Por que uma pessoa esperaria por você?

Quem já teve oportunidade de vivenciar uma, duas ou mais histórias como essa sabe que namorar à distância é viver com um aperto de saudade dentro do peito. Alguns relacionamentos têm final feliz, outros, ou a maioria deles, nem tanto. O que faz com que cada um trace o seu destino de forma tão diferente?

Uma amiga me dizia que a distancia intensifica a relação e acentua o que é bom e o que é ruim. Como sobreviver a isso? E à saudade? E ao desejo? Talvez um namoro à distância não termine porque acabou o amor, talvez isso ocorra por ter findado a pretensão de lutar por esse sentimento. E a justificativa para essa fraqueza da vontade é a própria distância!

  
Ainda não chegamos aos trinta anos, mas olhamos para os nossos amados tendo certeza de que queremos passar o resto da vida com eles, ou seja, pelo menos uns cinquenta anos. Cinquenta anos! Isso é o dobro de tudo o que eu vivi e, se eu disser que eu tenho dimensão do quanto isso representa, eu estou mentindo. Apenas imagino todo o cotidiano, todas as delicias de uma vida a dois e todos os desafios; as noites de intensa paixão e as noites em que você vai, simplesmente, querer dormir, talvez até sozinho. E então podemos antever um (a) colega de trabalho sexy, as nossas paranóias diante do espelho com o passar dos anos e como tentaremos administrar todas as inseguranças enquanto damos banho nos meninos, arrumamos, botamos no carro e levamos pra escola. Devemos refletir também sobre os dias de bom humor, os dias de mau humor, as contas, o supermercado, a faxina em casa, ou seja, vida real! Não são exatamente as cenas que passam nas novelas das oito. Imagine tudo isso que cogitamos somado a dezenas de acontecimentos que não prevemos e temos 50 anos de casamento!

Vendo esse panorama geral o que seriam dois anos namorando à distância se você tem certeza que é com aquela pessoa que você quer passar o resto da vida? Quantos momentos de distância física e psicológica teremos em 50 anos? Pensar nisso dá medo, e é por medo que os namoros à distância não se mantém. Por medo de quem nos tornaremos, por medo de não conseguir dar lugar aos nossos desejos, por medo de não sermos habilidosos o suficiente para conseguir semear o amor e principalmente por medo de não conseguir manter esse sentimento por um, dois, três anos. Que medo deve dar então quando pensamos em cinquenta! Mas, como diria a Ana, “Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor.” 





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